Compreendemos tão pouco sobre o clitóris porque, historicamente, os estudos relacionados a ele foram escassos e negligenciados. Os primeiros registros datam de 1559, mas assim que se percebeu que o prazer feminino não era essencial para a reprodução, a ciência, predominantemente conduzida por homens, perdeu interesse nesse aspecto. Essa lacuna persistiu ao longo dos séculos, e em 1948, o clitóris desapareceu completamente do Gray’s Anatomy, refletindo a falta de reconhecimento na literatura médica.

Somente mais tarde, graças aos movimentos feministas e seus manifestos, é que o clitóris voltou a receber a atenção que merece. Essa redescoberta é crucial não apenas para a compreensão da anatomia feminina, mas também para reconhecer a importância do prazer sexual como parte integral da saúde e bem-estar da mulher. À medida que avançamos, é essencial que continuemos a explorar e valorizar todas as facetas do corpo humano, garantindo uma abordagem mais inclusiva e compassiva na pesquisa científica.

Somente em 1998, a Dra. Helen O’Connell, renomada urologista, protagonizou um marco na medicina moderna ao conduzir o primeiro estudo abrangente sobre a anatomia clitoriana.

A contribuição pioneira da Dra. O’Connell ressalta a importância de ampliar nossa compreensão sobre a anatomia feminina, não apenas para benefício médico, mas também como um tributo ao movimento contínuo em prol da igualdade de gênero e da valorização da experiência feminina em toda sua complexidade.

Agora, mais do que nunca, é imperativo quebrar essas correntes. O conhecimento é a chave da emancipação, como argumentado por autoras contemporâneas como Chimamanda Ngozi Adichie em “Sejamos Todos Feministas”. Capacitar as mulheres a compreenderem e reivindicarem seu direito ao prazer não é apenas uma questão de anatomia, mas uma busca pela equidade e autoafirmação.

Trago uma crítica pertinente sobre a disparidade no acesso ao prazer sexual enfatiza uma questão crucial dentro do movimento feminista contemporâneo. A promoção do direito ao orgasmo por meio de avanços tecnológicos, como vibradores potentes, muitas vezes reflete um viés em direção a privilégios socioeconômicos e raciais.

Ao considerarmos o amplo espectro da experiência feminina, é vital reconhecer que, embora algumas mulheres desfrutem dos frutos da liberdade sexual, muitas outras estão submetidas a condições adversas, incluindo mutilação genital em contextos conservadores.

Essa crítica não desvaloriza a luta pelo direito ao prazer, mas destaca a necessidade de um movimento feminista mais inclusivo, que não apenas celebre conquistas individuais, mas que também se comprometa a enfrentar sistematicamente as desigualdades em todas as suas formas. O movimento deve ser uma voz poderosa para todas as mulheres, independentemente de sua etnia, classe social ou localização geográfica, visando uma verdadeira equidade e justiça global.

A ausência de estudos dedicados ao clitóris na formação de ginecologistas é um reflexo alarmante da lacuna no entendimento da anatomia feminina. Esta realidade destaca a necessidade urgente de uma revisão profunda na educação médica, garantindo que profissionais de saúde estejam plenamente equipados para abordar todas as dimensões da saúde feminina.

O envolvimento de fisioterapeutas pélvicas na atenção ao clitóris destaca a importância de uma abordagem holística.

Advogar por um paradigma em que a anatomia feminina seja integralmente reconhecida e cuidada é essencial não apenas para o bem-estar físico, mas também para promover a autonomia sexual e emocional das mulheres. Este apelo à reformulação na educação médica e na conscientização social é uma chamada necessária para garantir que todas as mulheres recebam a atenção de saúde que merecem.

“Meu Clitóris Minhas Regras” (MCMR) é uma organização plural e inclusiva, dedicada à saúde, prazer e bem-estar das mulheres e pessoas com clitóris. O MCMR nasceu da necessidade de compreender o funcionamento do corpo relacionado ao orgasmo, uma busca que nem sempre foi fácil, especialmente para aqueles que cresceram em uma era pré-informação digital.

A organização surgiu em 2017, quando Gaia teve contato com o primeiro modelo tridimensional completo do clitóris, revelando uma compreensão mais profunda e abrangente. A missão do MCMR é compartilhar essa completude do corpo clitoriano com o mundo, promovendo um movimento de análise, busca, estudo e compartilhamento de informações sobre educação sexual. Este esforço visa capacitar mais pessoas a conhecerem seus corpos, se amarem e, assim, experimentarem o prazer de maneira saudável.

O MCMR atua como uma rede orgânica e empreendedora, composta por uma equipe dedicada que cria materiais para autoconhecimento, educação sexual, aulas, cursos, oficinas e eventos. Além disso, a organização conta com o suporte de profissionais da saúde, incluindo ginecologistas, fisioterapeutas pélvicas, sexólogas, doulas e enfermeiras, que compartilham conhecimento e apoiam o projeto.

O financiamento para esse trabalho é obtido através da venda de artigos disponíveis na CLITSTORE, uma loja online que oferece produtos criados por diversas pessoas que acreditam no propósito do MCMR. Ao acessar a loja, as pessoas podem apoiar a causa e contribuir para o crescimento contínuo da organização.

A questão é, quer saber mais, muito mais? Quer ajudar a causa? Vem com a gente! Entra em contato porque queremos te ouvir! meuclitorisminhasregras@gmail.com

Abraço no bulbos,

Gaia Qav
CEO Founder